O texto a seguir foi redigido com base na proposta de redação da FUVEST 2012: Participação política: indispensável ou superada? Confira a proposta completa e a coletânea disponibilizada clicando aqui.
Diante da vigente estagnação política na qual se encontra a esmagadora parte da população brasileira, tem se discutido muito a participação — ou, no caso, a ausência da mesma — do povo nos processos políticos em geral. Não no quesito “votar”, pois o voto compulsório é previsto pelo Código Eleitoral do Brasil já há muitos anos, mas sim no que diz respeito ao real envolvimento político, implicitamente incluso nos direitos e deveres do cidadão.
Isso porque, quando o assunto é política, nota-se um desinteresse devastador por parte das pessoas, tanto dos jovens quanto dos adultos. Muitos chegam até a orgulhosamente se autodenominarem “apolíticos”, como se estivessem se desresponsabilizando por todos os desastres sociais e econômicos provocados pela eleição de governantes ineficientes. Ora, estes não poderiam estar mais enganados! Uma vez que a pessoa se abstém dos direitos políticos, ela automaticamente se torna a maior responsável por deixar impune os que fazem uso do Poder Executivo para bem próprio. Esta escolha é tão sensata quanto votar cegamente, sem pesquisar os antecedentes do eleito ou do partido em questão.

Seria insensato tentar encontrar o porquê de tal mentalidade popular, já que não existe uma causa exclusiva. A situação política brasileira atual é consequência de vários fatores desencadeados principalmente pelo individualismo. Isso está diretamente relacionado com a negação do “pensar coletivo”, produto do capitalismo, sistema profundamente enraizado em nossa sociedade. Portanto, a essência da política — priorizar o coletivo, mesmo que seja em detrimento do individual — acaba sendo invertida e o que sobra são só os processos burocráticos que mascaram o sistema corrompido.
O único possível resultado disto tudo não é nada diferente do que encontramos nos dias de hoje: muitas eleições “compradas” através do coronelismo (conhecido também como "voto de cabresto", atrelado à manipulação de massa), constantes desvios de verba pública e uma população impotente e conformada. É claro que, sempre que podem, as pessoas reclamam e expõem seus pensamentos negativos e generalizados sobre a política nacional; entretanto, não movem um dedo para fazer algo a respeito. E ainda têm a pachorra de criticar os que vão às ruas para protestar, alegando que “não adianta”.
Por fim, neste cenário onde as pessoas aceitam as condições impostas pelo descaso para com a população, a política deixa efetivamente de ser política e abre espaço para uma plutocracia informal, sistema no qual dominam os que possuem maior poder aquisitivo, em substituição à democracia, que não sai do papel. Portanto, se a questão for analisada sob um ângulo prático e desilusório, é possível inferir que a política não deixou de existir, até porque isto não seria possível; ela apenas adquiriu uma forma completamente distinta da ideal. Contudo, não resta dúvidas que esta alteração provocará consequências cada vez piores à sociedade, e a situação só será reversível por meio de drásticas reformas no sistema político.