Eu poderia começar o texto com palavras complicadas e impessoais, evitando usar o "eu" e analisando criticamente algum tema polêmico. É claro que poderia. Poderia também evitar repetições de palavras, pois afinal de contas, um texto que se preze não tem qualquer semelhança com a linguagem cotidiana.
Para quê usar palavras objetivas e claras, quando existem as complexas e vagas para preencher longos períodos de tempo? É sempre bom incluir expressões como "sociologicamente falando", por mais que elas não acrescentem muita coisa ao sentido da sentença. E se for uma aula na qual seja preciso mascarar a falta de conteúdo, uma boa dose de gerundismo é sempre bem-vinda. Até porque, "Iremos estar desenvolvendo os aspectos decorrentes do assunto proposto pelo material didático" soa muito melhor que "Vamos seguir a apostila".
Onde estou querendo chegar com toda essa ironia? Simples. As pessoas insistem em coisas desnecessárias. Não é uma crítica, pois muitas vezes também me incluo neste grupo; eu diria que é mais uma reflexão. Por que precisa ser tudo tão complicado? Não vou nem entrar no mérito do sistema educacional nesse texto, porém, é válida a linha de questionamento sobre a real necessidade de aprender, em média, doze matérias no ensino médio para se tornar alguém de prestígio.

Insisto nessa questão porque muito da banalização que vemos hoje em dia é decorrente disso. A maioria dos relacionamentos amorosos são baseados apenas em pegação, demonstração de afeto através de presentes caros e meras formalidades, esquecendo-se das pequenas coisas que compõem verdadeiros laços, como perguntar — e realmente se importar — sobre como o dia da pessoa foi, ou trocar olhares tão profundos que chegam a ser mais significativos que palavras.
Certa vez li em algum lugar que "mais vale meio quilo de comida saboreada e mastigada do que dois de comida engolida". A vida é certamente muito curta para ser desperdiçada, mas é ainda mais curta para ser vivida de forma mecânica, indiferente aos pequenos detalhes.